Cinema escrito

Luzes, câmara, acção!

quarta-feira, outubro 27, 2004

28.ª Mostra de Cinema Internacional de São Paulo 2004

A Mostra de Cinema Internacional de São Paulo, que decorrerá de 22 de Outubro a 04 de Novembro, além de dezenas de produções estrangeiras, conta este ano com quatro filmes portugueses.

A 28.ª Mostra de Cinema apresenta, na edição deste ano, 329 filmes (268 longas e 61 curtas-metragens) de 66 países. O destaque vai para os cineastas Abbas Kiarostami (Irão), Guy Maddin (Canadá) e Amos Gitai (Israel), que terão sessões retrospectivas.
No entanto, distingue-se também Jerzy Stuhr da Polónia, que exibe dois filmes na programação, e DJ Joakim (França), que contribuirá para as pick-ups da película "The Fall of the House of Usher" (1928). Uma outra grande presença é a da cantora e actriz Jane Birkin. A musa inspiradora de Serge Gainsbourg, que participa da comédia “Obrigada Dra. Rey”, de Andrew Litvack, fará o encerramento da mostra no Sesc Pinheiros.
Além disso, neste acontecimento realizar-se-ão exposições, lançamentos de livros, performances, e ainda a estreia mundial de “Bem-Vindo a São Paulo”, a primeira longa-metragem produzida pelo festival, que relata várias perspectivas da cidade por diferentes cineastas.

Produção Nacional

“Água Fria”, de Teresa Villaverde, “Na Cidade Vazia”, de Maria João Ganga, “Tudo Isto é Fado”, de Luís Galvão Teles, e “O Quinto Império - Ontem como Hoje”, de Manoel Oliveira, fundamentado na peça de teatro “El-Rei Sebastião”, de José Régio (1901-1969), são as películas portuguesas que tomarão parte na programação da mostra. No entanto, a realizadora portuguesa Maria de Medeiros verá o seu documentário “Je T'Aime... Moi Non Plus”, relativo aos conflitos entre os críticos e a classe artística, ser exibido na mostra. Bem como, a curta-metragem “Alguma coisa acontece”, que aborda a cidade de São Paulo.

Uma portuguesa no júri

O júri da 28ª Mostra de Cinema é constituído pelos cineastas Cacá Diegues (Brasil), Abolfazl Jalili (Irão), George Sluizer (França), Fridrik Thor Fridriksson (Islândia), o actor Philippe Maynial (França), a produtora Elisa Resegotti (Itália) e Teresa Villaverde (Portugal).
Estes jurados vão ter que escolher, de entre os filmes em competição, a melhor obra de um director, que conte pelo menos com três longas-metragens no seu currículo. Por outro lado, nas categorias de documentário e longa-metragem, os contemplados pela vitória receberão o Troféu Bandeira Paulista.

“Noite Escura”

“Um mundo escondido onde a vida não tem preço e onde tudo se vende”
João Canijo

Algures no Portugal profundo, existe uma casa de alterne que ficará marcada pela tragédia. A noite começava com qualquer outra. O movimento era habitual. Contudo, a partir daquela noite, a família que controlava a casa nunca mais seria a mesma.
O pai, Nelson, (Fernando Luís) e a mãe, Celeste, ( a oxigenada Rita Blanco), que já foi prostituta e agora é “madama”, gerem o bordel. Carla, a filha mais velha, (Beatriz Batarda) é o “patinho feio” e a escrava da família e Sónia, a mais nova, (Cleia Almeida) sonha ser cantora de música pimba. As meninas entretêm e seduzem os clientes.
Naquela noite, um negócio corre mal ao pai e o efeito imediato disso é a “venda” da filha mais nova à máfia russa. A partir daqui, o rumo da trama já está praticamente traçado: a fatalidade atingirá o coração desta família.
Esta é, apenas, uma das muitas versões do último filme de João Canijo. O universo abafado do submundo dos bares de alterne foi o cenário escolhido pelo cineasta para “Noite Escura”. O realizador de “Sapatos Pretos” consegue com este filme o seu melhor desempenho.

Dois anos de “noites escuras”

João Canijo, o realizador, foi, durante dois anos, actor no seu próprio filme. Percorreu Portugal de norte a sul, de bar em bar de alterne, à procura da essência para a sua produção.
Envolvido por luzes vermelhas, quadros com fotografias a preto e branco e desenhos eróticos, ao som de Diana Krall, Sting, Peter Gabriel e Supertramp, Canijo foi absorvendo o ambiente e começando a dominar os códigos “alternativos”.
O seu principal objectivo era a construção “verdadeira” de uma casa de alterne com vida própria. Encontrar os rituais de comportamento que “não se aprendem rapidamente”, saber quais são os “tiques de linguagem e maneira de ser” dos patrões, enfim, arranjar o décor perfeito para os actores estagiarem.
Após 85 casas de alterne percorridas, o realizador consegue finalmente o espaço e o tempo para o seu filme. É um único cenário, escolhido intencionalmente, para reunir as principais características do submundo da prostituição. Os cheiros, as formas, as cores primeiro “estranham-se”, mas são de tal forma reais que as personagens de repente apareceram. Ou seja, Fernando já era Nelson, Rita já era Celeste, Beatriz já era Carla e Cleia já era Sónia. Estas personagens são resultado da combinação de várias formas de vida que Canijo reuniu.
Embora o trabalho de pesquisa tenha sido exaustivo e custoso, o cineasta já sabia que rumo dar à história.

A tragédia grega na casa de alterne

“ A Infigénia de Aulis” de Eurípedes anda com João Canijo há anos. Conta a história do rei Agamémnon que sacrifica a filha para que a sua empresa tenha bons augúrios dos deuses.
Concebendo este caso a partir de Portugal, a ideia do mundo da prostituição surgiu naturalmente ao realizador. É um mundo em que “ a tragédia pode passar anónima, já que tudo é ilusão e vontade de fazer dinheiro, mais nada.”
“Noite Escura” é “ um mundo que vive de fazer as pessoas acreditar em coisas”. Os clientes acreditam no que as raparigas, cheias de charme, lhes sussurram, Celeste acredita que gere a casa com seriedade e bom gosto, portando-se como uma senhora, Sónia acredita que vai ser cantora pimba e Nelson acha que os seus negócios vão correr sempre bem.
Todavia, é de um negócio mal resolvido que Nelson (Agaménmon) tem que sacrificar a sua, virginal e “por estrear”, filha Sónia para os russos, dizendo-lhe que vai para Madrid ser cantora.

Dimitri, o Vilão

Por vezes, são curiosas as peripécias que passamos para alcançar algum objectivo.
Dimitri Bogomolov é um actor russo, de rosto doce e pueril e com um olhar tímido. Chegou da Sibéria Central e representa a personagem de Fyodor. Um homem frio e cruel da máfia russa que vai cobrar o que lhe é devido: a filha mais nova. É uma figura que transpira corrupção moral e é dotada da força hedionda do poder.
Dimitri licenciou-se em teatro e cinema. Conseguiu emprego mas o salário não chegava para sustentar a família. Emigrar foi a solução encontrada e Portugal o país eleito para o destino. Cá, deram-lhe emprego. O actor formado foi trabalhar para a construção da A2. O teatro e o cinema continuavam a ser o seu principal objectivo, mas ainda eram um sonho longínquo. A sorte acabou por lhe bater à porta e entrou para uma companhia de teatro onde é professor. Canijo, também professor na mesma companhia, acabou por se cruzar com ele dando-lhe o papel de Fyodor. O realizador afirmou que era impressionante a minúcia da preparação da personagem feita por Bogomolov.
Este é só mais um caso de um emigrante que conseguiu fazer aquilo que gosta num país que o desconhece. As obras na A2 já são, apenas, uma mera recordação…

Conclusão

“Noite Escura” é um filme que está a dar que falar. Esteve no último Festival de Cannes, foi seleccionado para o Festival de Montreal 2004, Festival SeNef na Coreia, Festival Internacional de Cinema de Vancouver (Canadá) e de Haifa (Israel) e para o IndieLisboa.
O filme é a representação do lado negro da alma humana situada no mundo escondido, cruel e sórdido do tráfico e da prostituição. Apesar desta visão violenta, os afectos e o amor continuam a resistir à degradação.
É uma película com actores fortes para personagens que não amamos. Estas perderam o mapa do território dos sentimentos. Fingem que não vêm e vivem uma realidade paralela, acreditando ser essa a verdadeira. Mas não será assim Portugal!?
Um grande filme!

sexta-feira, outubro 22, 2004

Decepcionante “Catwoman”

Traduzindo o meu gosto por cinema, fui ver o filme “Catwoman”. Apesar de ter ouvido umas opiniões não muito positivas acerca desta película, não deixei de ir, até porque, embora muitas vezes as críticas construam os filmes, não são estas que impedem alguém de ver este ou aquele filme…
Agora, ainda a recuperar do desapontamento, refiro-me a este filme como um dos piores que vi até hoje. Desde a escolha e desempenho dos actores, passando pelos efeitos especiais, até mesmo pelo guarda-roupa e terminando no próprio realizador, Pitof, este filme deixa muito a desejar.
Na mesma linha, mas longe, de “Spider-Man” esta produção cinematográfica conta a história de Patience Philips (Halle Berry), uma tímida designer gráfica, que se incomoda até pelo simples facto de respirar. No entanto, vê-se enredada numa espécie de conspiração quando descobre um horrível segredo da empresa onde trabalha, acabando por ser assassinada. Contudo, através de um bizarro prodígio, Philips é restaurada à vida por um Deus-Gato, de nome Midnight (Meia-noite). A partir daqui, transforma-se numa poderosa mulher provida dos apurados sentidos dos felinos, a Mulher-Gato. Sendo o seu principal objectivo, vingar-se daqueles que a mataram.

Produção feita à pressa...
No que diz respeito ao desempenho de papéis, Halle Berry está no seu pior, fazendo com que a sua tarefa de dar corpo e vida à sensual gata, se torne demasiado redundante ao longo do filme. Até nas cenas mais simples, esta parece mostrar inexperiência naquilo que faz como profissão. Além disso, não entendo a utilidade do treino a que Berry se submeteu para a rodagem do filme, porque em todas as cenas de luta, estão bem notórias as animações visuais (ainda que mal executadas).
Do resto do elenco, destaca-se também, pela negativa, Sharon Stone (Laurel Hedare), que no seu percurso cinematográfico, duvido ter tido tão mau desempenho. Aquela que ficou conhecida com o “descruzar de pernas fatal”, está aqui mal aproveitada, tendo um papel muito pobre.
Considero ainda que, o guarda-roupa do elenco foi mal adaptado ao contexto das personagens, nomeadamente o fato da Catwoman. A Gata perdeu estilo ao mostrar demasiadamente o corpo, transmitindo falta de sensualidade e de mistério, que os gatos tanto possuem. Quem viu Michelle Pfeiffer, na sua interpretação de Mulher-Gato, em “Batman- O retorno”...

De um modo geral, a película é de facto muito pobre, parecendo ter sido produzida por amadores. O que deixa algumas dúvidas no mundo cinematográfico, visto que o realizador Pitof, sempre se destacou em produções deste género, sendo ele especializado em efeitos visuais e cinematografia.
Deste modo, interrogo-me se depois desta paupérrima produção não mais se farão grandes películas como os memoráveis: "Superman" de Richard Donner e "Batman" de Tim Burton.

“Shrekmania”

O ogro verde "Shrek" está de olho nos palcos da Broadway!

O desenho animado “ Shrek” ainda dá que falar. Desta vez o ogro, que conquistou o mundo em dois filmes de animação, verá a sua história retratada num musical da Broadway, a estrear somente em 2006, ano em que a Dreamworks planeia lançar o terceiro episódio da série.
A obra será encenada por Jason More, nomeado este ano para os prémios Tony (o equivalente dos Óscares no teatro) pelo musical de marionetas “Avenue Q”.
Sam Mendes, realizador que venceu o Óscar, em 2000, com o filme “ Beleza Americana”, vai produzir e assumir o controlo artístico da peça.
A versão musical de “Shrek” estará a cargo da Dreamworks, criadora do desenho animado, que espera repetir o sucesso que a sua rival, Disney, teve com “ A Bela e o Monstro” e o “ Rei Leão”.
“Shrek 2” superou o sucesso do primeiro episódio, figurando assim na lista das melhores estreias deste ano. Só no primeiro fim-de-semana de estreia arrecadou 104 milhões de dólares, nos Estados Unidos, passando à frente dos 70,2 milhões de “ À Procura de Nemo”. Deste modo, é a melhor estreia para um filme de animação e a segunda melhor de toda a história, atrás de “ Homem Aranha” (2002).
A nós, se entretanto não formos a Nova Iorque, só nos resta esperar pelo terceiro episódio da série, ou então, acreditar que Felipe La Féria trará o musical para palcos portugueses, o que a mim me parece muito difícil. Mas a esperança é a última a morrer…


Fonte: http://www.metropolitanafm.com.br/web/?dir=noticias&act=ler&id=866

George Lucas: que a força esteja contigo!

O “American Film Institut” (AFI) decidiu atribuir a George Lucas, um dos prémios mais cobiçados do mundo da sétima arte: o “Lifetime Achievement Award”. O prémio ser-lhe-á entregue durante um jantar de honra, em Junho do próximo ano, em Los Angeles.
O consagrado realizador da saga “Guerra das Estrelas” e um dos principais mentores de “Indiana Jones” vê, assim, a sua carreira ser finalmente reconhecida. Esta premiação só é concedida uma vez por ano a uma personalidade do mundo do cinema.
Lucas será o 33.º a receber o prémio, vendo o seu nome numa lista onde já constam figuras como Orson Wells, Meryl Streep, Steven Spielberg, Jack Nicholson e Alfred Hitchcock.
Segundo Howard Stringer, presidente do AFI, Lucas mostrou-se ser merecedor deste galardão porque é "um narrador genial e antes de tudo, um pioneiro da animação. Fez a arte da imagem avançar como poucos outros, inspirando toda uma geração de cineastas".
Confrontado com a premiação, Lucas mostrou-se satisfeito. "Tenho sorte de ter uma longa carreira durante a qual pude fazer o que gosto. É uma honra poder juntar-me a personalidades extraordinárias como as já premiadas pela AFI", afirmou.
O cineasta nasceu em 1944 em Modesto (Califórnia). Conseguiu o sucesso com “ Star Wars”, e ao lado de Steven Spielberg, em “Indiana Jones”, viu a sua carreira tornar-se uma referência para muitos realizadores e produtores. Agora com 60 anos, prepara-se para lançar, em 2005, "Episódio III: A vingança de Sith", a última edição da “Guerra das Estrelas”.
Embora ele tenha sido pioneiro na forma de fazer filmes, nomeadamente, no que diz respeito a filmes de ficção científica, e seja responsável por alguns dos maiores êxitos de bilheteiras em todo o mundo, os seus títulos como realizador ainda são poucos.

A mim, parece-me justa a atribuição do prémio, embora não seja uma grande fã dos filmes do género. Contudo, não podemos deixar de concordar que Lucas é dotado de um grande génio inventivo, deixando isso bem vísivel nos seus filmes e produções.

sexta-feira, outubro 15, 2004

O último voo…

“Um herói é um sujeito comum que encontra força para persistir e resistir apesar de obstáculos devastadores”.
Christopher Reeve (1952-2004)

Quase como que uma tradição, quando alguém sucumbe, temos necessidade de rever todos os momentos da sua vida terrena, como que se de uma mera película se tratasse. Lamentamos a injusta morte. Insultamos a existência humana. Depois, já conformados e remediados com o desventurado infortúnio, simplesmente abandonamos o sentimento negro e cru num recanto da nossa reminiscência.

Nascido a 25 de Setembro de 1952 em Nova York, Christopher Reeve teve um percurso de actor marcado por divergentes fases. Após a sua entrada na ilustre escola de teatro Juilliard, iniciou-se no pequeno ecrã com a série "Love of Life", para depois, em 1978, se estrear no cinema tendo uma pequena participação em "S.O.S. Submarino Nuclear", ao lado de David Carradine e Charlton Heston.
Nesse mesmo ano, o director Richard Donner vê nele a perfeita condição do homem que pode voar. E, com toda a sua dedicação e talento, Reeve entrega-se como que a uma missão, incarnando de corpo e alma Clark Kent: o Super-Homem. Desempenho que lhe valeu o prémio Bafta, em 1979, como Melhor Revelação. O seu carisma e total empenho na personagem, converteram-no no “derradeiro filho de Krypton”.
O mais célebre intérprete do Super-homem, nunca desistiu após o funesto dia 27 de Maio de 1995, em que um acidente equestre o condenou a ser tetraplégico. Talvez ironia do destino ou talvez simples acaso, Reeve familiariza-se com a sua personagem no filme "Sem Suspeita" (que sofria de paralisia).
Apesar da sua debilitada saúde, a carreira cinematográfica de Reeve continuou. Até que, em 1998 encontrou forças para produzir e protagonizar o seu definitivo papel principal, a refilmagem do clássico de Alfred Hitchcock, a " Janela Indiscreta", tendo sido apontado para o Globo de Ouro e reconhecimento do Screen Actors Guild.

E mais do que amor por aquilo que se faz, tornou-se exemplo de vida para muitos, dedicando-se por completo na sua recuperação, tendo sempre os outros como força motivadora. Foi rosto de intensas lutas pela autorização da investigação com células estaminais, células que possuem aptidões regenerativas essenciais para o tratamento de tetraplégicos, mas que têm à sua volta vários problemas relacionados com a ética médica. E, em 2002, inaugurou o primeiro centro de tratamento para as vítimas de paralisia para que estas pudessem viver independentemente. Contudo, o actor morreu aos 52 anos de idade, vítima de sua prisão de nove anos. Venceu a atroz batalha daquilo que é realmente lutar por tudo o que se quer, mesmo estando o nojo eminente.

Mesmo assim, para o Homem de Aço, a vida era mais do que o despretensioso viver dia após dia da enfermidade. Era enfrentá-la com a atitude de querer sobrevoar o mundo de uma só vez, e encher os pulmões de ar gritando, vida eterna. Desta forma, denunciou ao mundo a face real de um homem feito super-herói.

Há vida no terminal

Steven Spielberg, conceituado realizador norte-americano, voltou a presentear os amantes do cinema. Mas por detrás da sua última produção, intitulada “The Terminal”, há uma história bem real: a de um homem que efectivamente vive num aeroporto.


Aqueles que já tiveram o prazer de passar pelo aeroporto Charles de Gaulle, em França, decerto que o viram ou, no mínimo, ouviram falar dele. Sentado em bancos de plástico vermelhos, de aspecto sempre impecável e com uma postura inconfundivelmente sui generis : assim se pode descrever sucintamente Mehram Karimi Nasseri, um iraniano de 59 anos que nos últimos tempos tem andado nas bocas do mundo.
“Sir Alfred”, como o próprio se intitula, é um caso impressionante e difícil de entender. Este apátrida nasceu em Masjid Soleiman, região iraniana que em 1945 estava ainda sob controlo britânico, e durante a sua juventude estudou na universidade inglesa de Bradford. Em 1976 terá regressado ao Irão, tendo sido preso por participar em manifestações contra o regime da época. Posteriormente é libertado e expulso do seu país, sendo-lhe atribuído um passaporte de imigração, documento que o proibia de regressar à sua pátria.

Em busca de identidade

Nasseri começa então a sua saga por toda a Europa. Durante algum tempo pede asilo político, solicitação que lhe é negada por diversos países, até que a Bélgica assiste aos seus intentos e o iraniano obtém os documentos necessários para pedir a nacionalidade de um país europeu.
Estranhamente, apenas em 1986 este caricato indivíduo decide pedir nacionalidade inglesa. Dois anos depois parte rumo a Londres e, na escala em Paris, perde a mala com os documentos. A partir daqui misturam-se uma série de versões da história, que o próprio “Sir Alfred” faz questão de não esclarecer: entre um suposto retorno à Bélgica, uma viagem de ferry-boat para Inglaterra e toda uma quantidade de impressionantes peripécias, até hoje é impossível compreender ao certo como este homem se deixou enrolar numa complicada teia burocrática que o conduziu ao aeroporto Charles de Gaulle, onde acabaria por se quedar.

O dia-a-dia de “Sir Alfred”


Se a vida de Nasseri no Terminal 1 daquele “entreposto de aviões” chegou a ser difícil, fase em que sobreviveu à custa da caridade de passageiros e funcionários, hoje “Sir Alfred” subsiste sem qualquer problema, principalmente devido a todos os jornais e revistas pelos quais é solicitado com o fim de relatar a sua história. Os seus pertences estão todos empilhados em caixas que guarda religiosamente junto à sua “cama” (um mero conjunto de bancos onde o iraniano pernoita) e a higiene pessoal também não é problema, uma vez que este utiliza as casas de banho do aeroporto durante a madrugada.
Porém, Nasseri é hoje um homem psicologicamente instável, situação que facilmente se compreende. O seu estado de espírito é muito irregular e tanto pode estar extremamente comunicativo, como ficar semanas sem proferir uma palavra.
De toda esta incrível narrativa, aquilo que de mais bizarro se pode dizer é que, presentemente, este homem poderia ser livre, um cidadão comum com toda a documentação necessária. Contudo, mesmo depois de receber uma avultada quantia monetária devido à recente película “hollywoodesca” inspirada em si, Nasseri recusa-se a assinar os papéis que lhe conferem o direito a uma vida normal, afirma não conhecer nenhum Mehram Karimi Nasseri e, como já foi referido, auto intitula-se de “Sir Alfred”.
A dúvida hoje é saber se algum dia o ilustre morador do Terminal 1 terá outro endereço. O aeroporto tornou-se a sua casa, de tal forma que o seu passado pertence àquele local e, ao que tudo indica, o futuro também.

Cuidado com os tubarões!!!


O mundo do cinema é muito vasto! São muitos filmes, muitos argumentos, demasiados actores, vários cenários, reais ou fictícios, enfim, uma panóplia de elementos que por si só constituem matéria de crítica.
Para este primeiro post, a minha intenção é bem mais simples. Para já, pretendo apenas falar sobre o último filme que tive a oportunidade de ir ver ao cinema: " O Gang dos Tubarões". Com esta película consegui conciliar a minha paixão por cinema e o mundo da animação. A história é simples mas repetitiva: um menino pobre, no caso é um peixe, que quer atingir o sucesso muito rapidamente e que vê essa oportunidade chegar alicerçada numa mentira. A vontade de chegar ao topo é tão grande que o pequeno peixe nem se apercebe de quem realmente gosta dele. Se juntarmos a isto o facto de, no oceano onde ele vive, haver uma sociedade perfeitamente organizada, à semelhança das grandes metrópoles em que a máfia está a “cargo” dos tubarões, temos um filme que, pelo menos, nos deixa mais bem dispostos. Isto não pretende ser um profundo comentário ao filme, contudo parece-me justo referir que, à semelhança do que fizeram com Shrek, os produtores apostaram numa banda sonora à altura, mas com uma inovação: os próprios cantores, na sua versão animada, integram a história do filme.
Um dos aspectos que me pareceu mais prejudicial para o desempenho da trama foi a dobragem. Não quero com isto dizer que não se devia fazer a tradução dobrada, apenas acho que neste filme haviam personagens, nomeadamente o Óscar, que perderam a magia com a dobragem. Há certas expressões que não têm tradução. Contudo, não podemos deixar de dar os parabéns aos actores portugueses que deram voz às personagens, designadamente, ao Nicolau Breyner, Rui Unas, Marco Horácio, Manuela Couto, entre outros. Claro que a versão original, ao contar com as participações de Robert de Niro, Will Smith e Jack Black, torna-se muito mais interessante e apelativa para o grande público.
" O Gang dos Tubarões" é um filme para miúdos, mas à qual os graúdos também podem assistir e ficar mais uma vez surpreendidos com este trabalho de animação da Pixar. Embora fique muito aquém de “À Procura de Nemo”, esta é uma produção que promete distrair os mais sérios e animar os mais mal dispostos.

quarta-feira, outubro 06, 2004

Viagem pela sétima arte

Cristina Lima, Helder Beja e Idalina Casal. São estes os nomes (um dos quais meu) de três apaixonados por cinema. Aqui, nesta bobine de palavras, sem câmaras, sem luzes, mas com muita acção, iremos dar largas à vontade de escrever.
Cinema e escrita: dois prazeres juntos num só. Assim começa este weblog, assim será por muito tempo.