O último voo…
“Um herói é um sujeito comum que encontra força para persistir e resistir apesar de obstáculos devastadores”.
Christopher Reeve (1952-2004)
Quase como que uma tradição, quando alguém sucumbe, temos necessidade de rever todos os momentos da sua vida terrena, como que se de uma mera película se tratasse. Lamentamos a injusta morte. Insultamos a existência humana. Depois, já conformados e remediados com o desventurado infortúnio, simplesmente abandonamos o sentimento negro e cru num recanto da nossa reminiscência.
Nascido a 25 de Setembro de 1952 em Nova York, Christopher Reeve teve um percurso de actor marcado por divergentes fases. Após a sua entrada na ilustre escola de teatro Juilliard, iniciou-se no pequeno ecrã com a série "Love of Life", para depois, em 1978, se estrear no cinema tendo uma pequena participação em "S.O.S. Submarino Nuclear", ao lado de David Carradine e Charlton Heston.
Nesse mesmo ano, o director Richard Donner vê nele a perfeita condição do homem que pode voar. E, com toda a sua dedicação e talento, Reeve entrega-se como que a uma missão, incarnando de corpo e alma Clark Kent: o Super-Homem. Desempenho que lhe valeu o prémio Bafta, em 1979, como Melhor Revelação. O seu carisma e total empenho na personagem, converteram-no no “derradeiro filho de Krypton”.
O mais célebre intérprete do Super-homem, nunca desistiu após o funesto dia 27 de Maio de 1995, em que um acidente equestre o condenou a ser tetraplégico. Talvez ironia do destino ou talvez simples acaso, Reeve familiariza-se com a sua personagem no filme "Sem Suspeita" (que sofria de paralisia).
Apesar da sua debilitada saúde, a carreira cinematográfica de Reeve continuou. Até que, em 1998 encontrou forças para produzir e protagonizar o seu definitivo papel principal, a refilmagem do clássico de Alfred Hitchcock, a " Janela Indiscreta", tendo sido apontado para o Globo de Ouro e reconhecimento do Screen Actors Guild.
E mais do que amor por aquilo que se faz, tornou-se exemplo de vida para muitos, dedicando-se por completo na sua recuperação, tendo sempre os outros como força motivadora. Foi rosto de intensas lutas pela autorização da investigação com células estaminais, células que possuem aptidões regenerativas essenciais para o tratamento de tetraplégicos, mas que têm à sua volta vários problemas relacionados com a ética médica. E, em 2002, inaugurou o primeiro centro de tratamento para as vítimas de paralisia para que estas pudessem viver independentemente. Contudo, o actor morreu aos 52 anos de idade, vítima de sua prisão de nove anos. Venceu a atroz batalha daquilo que é realmente lutar por tudo o que se quer, mesmo estando o nojo eminente.
Mesmo assim, para o Homem de Aço, a vida era mais do que o despretensioso viver dia após dia da enfermidade. Era enfrentá-la com a atitude de querer sobrevoar o mundo de uma só vez, e encher os pulmões de ar gritando, vida eterna. Desta forma, denunciou ao mundo a face real de um homem feito super-herói.
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