“Um filme de raiva e de ternura”
Estreou no grande ecrã, no passado dia 28 de Outubro, o filme “A Terra da Abundância”. Do relacionamento antigo, de Wim Wenders e os Estados Unidos surge, agora, o retrato da sociedade americana, na mais perfeita harmonia actual.
Depois de grandes sucessos cinematográficos, como Paris Texas (1984) ou The Million Dollar Hotel (2000), Wim Wenders apresenta-nos, desta vez, uma Terra da Abundância (The Land of Plenty- o seu título original), em que vemos a face de uma América marcada pela pobreza, angústia e pelo horror delirante.
A história é conturbadamente simples. Lana (Michelle Williams), uma jovem cristã de 20 anos, depois de anos em África e no Médio Oriente, regressa aos E.U.A. Decide conhecer melhor o seu país de origem e participar numa missão católica, que no seio de Los Angeles, presta auxílio aos sem-abrigo. Contudo, ela tem outro objectivo mais importante, reencontrar o seu único familiar próximo, um tio.
Paul (John Diehl) é esse tio. Um veterano do Vietname, alucinado com o seu desígnio de salvar a América dos terroristas, que vive numa carrinha munida de câmaras e microfones, patrulhando as ruas da cidade dos anjos. Desde o 11 de Setembro de 2001, Paul sente-se um guardião, que tem por missão velar pelo povo da América, e qualquer árabe que aviste, através da sua viatura estratégica, é suspeito.
Estilo próprio
Através das duas personagens, Wenders retrata a América dividida do pós 11 de Setembro. Por isso, inventou um tio e uma sobrinha, que apesar de não se conhecerem e estarem em lados opostos de uma “guerra psicológica”, conseguem comunicar, num país onde existe um grave problema de comunicação, como o próprio afirma. As reflexões sobre a realidade americana têm sido constantes na carreira do realizador alemão, que considera a Terra da Abundância, não um filme “raivoso”, mas o resultado de frustrações e raivas relativamente ao mundo político contemporâneo.
Longe do modelo documental de Michael Moore, Wenders filma a realidade da “terra sinistra, escura, paranóica e cheia de mentiras e cinismo” que é a de Bush. E, ao seu próprio estilo, mostra o ”american way of life”.
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