Cinema escrito

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segunda-feira, novembro 22, 2004

Moore não desiste

Depois das eleições norte-americanas em que George W. Bush foi reeleito, Michael Moore quer começar já a preparar a sequela de “Fahrenheit 9\11”, um dos filmes mais polémico da actualidade



Se tudo decorrer sem contratempos, dentro de sensivelmente três anos chegará às salas de cinema a sequela de “Fahrenheit 9\11”, o polémico filme da autoria de Michael Moore.
O realizador encontra-se actualmente a negociar, com os estúdios Miramax, os pormenores referentes à viabilidade do projecto. No entanto, e tendo em conta o enorme sucesso que teve a primeira película (Palma de Ouro no Festival de Cannes), prevê-se que não seja posto qualquer entrave aos intentos do cineasta norte-americano.
Sendo Michael Moore um dos principais críticos da administração Bush, não admira que o resultado das últimas eleições presidenciais, que corroboraram a confiança do povo americano em George W. Bush, colocando-o à frente do país por mais quatro anos, tenha sido do seu desagrado. Em entrevista à revista “Hollywood Daily Variety”, quando confrontado com esta situação, Moore só encontra uma explicação: "Cinquenta e um por cento do povo americano está mal informado (…), não lhes foi dita a verdade”.Os temas centrais de “Fahrenheit 9/11 ½” (nome que, em princípio, terá a sequela), serão em tudo semelhantes aos do primeiro filme. A administração Bush, a luta contra o terrorismo e, particularmente, a guerra no Iraque, ocuparão grande parte do argumento da obra, uma vez que Michael Moore não pretende baixar o tom das suas críticas ao Governo republicano dos Estados Unidos da América.
Entretanto, Moore está também a desenvolver um projecto sobre o sistema de saúde dos Estados Unidos da América. Deste trabalho deverá resultar um documentário intitulado “Sicko”, destinado a denunciar as falhas existentes nas estruturas médicas daquele país.

terça-feira, novembro 16, 2004

Encontro Internacional de Argumentistas Europeus


De 18 a 21 deste mês irá decorrer, em Estrasburgo, o primeiro Encontro Internacional de Argumentistas Europeus. Esta iniciativa propõe um programa atractivo e de particular interesse para todos os roteiristas.
No programa destaca-se a apresentação do Grande Prémio Europeu de Argumento e a homenagem ao grande argumentista europeu Tonino Guerra, que escreveu, entre outros, os roteiros de “Blow-Up- Depois Daquele Beijo” (1966) e “Amarcord” (1974) do realizador Frederico Fellini.
Para além disto, este Encontro ficará marcado pelas projecções especiais de cinematografia da Polónia e da Holanda, bem como a escrita de documentários, em colaboração com o Museu de Arte Contemporânea de Estrasburgo, e a participação de profissionais e grande público em debates, conferências e leitura de argumentos.


Fonte:http://www.icam.pt/registos.asp?accao=1760&chave=TONINO{GUERRA&tema=all&advance=

FIKE 2004: Uma maratona de cinematografias

De 19 a 27 de Novembro, realizar-se-á no auditório da Universidade de Évora, a quarta edição do FIKE 2004 – Festival Internacional de Curtas-Metragens de Évora.

O FIKE 2004 é uma organização reunida do Páteo do Cinema da S.O.I.R. Joaquim António de Aguiar e do Cineclube da Universidade de Évora. É uma estrutura especialmente dirigida para a exibição de filmagens pouco divulgadas, que aposta fundamentalmente na diversidade e intervenção cultural e na qualidade artística e técnica.

Na edição deste ano, o festival estabeleceu um recorde com a apresentação de 1446 filmes vindos de 77 países. O nosso país encontra-se à frente da lista com 75 curtas-metragens seleccionadas. Em seguida, o Reino Unido com 58, os Estados Unidos com 46, a Espanha e a Itália com 43, a Alemanha com 42 e por último a Coreia com 39 filmes.

No que diz respeito à competição nacional, o júri deste evento irá premiar, a Melhor Curta-Metragem Portuguesa e o Melhor Filme de Expressão Portuguesa. Já na competição Internacional vai destacar os melhores nas categorias de ficção, documentário, animação, curta-metragem europeia e curtíssima (com duração até 5 minutos). Contudo, além do júri oficial, o FIKE conta também, este ano, com o júri da Federação Internacional de Cineclubes, que por sua vez concederá o Prémio Don Quijote, assegurando desta forma, a participação do vencedor no Festival Internacional de Cineclubes, que se irá realizar em Itália, a Junho do próximo ano.

Fonte: http://www.edusurfa.pt/

A mentira por trás do candidato


Jonathan Demme presenteia os seus admiradores com mais um filme que mostra o mundo, por vezes obscuro, da política americana. O realizador de “O Silêncio dos Inocentes” e “Filadélfia” consegue com esta película juntar no grande ecrã Denzel Washington e Meryl Streep, com interpretações à altura.
“O Candidato da Verdade” é um filme que tem a Guerra do Golfo como pano de fundo, sendo a partir da famosa operação “Tempestade do Deserto”, no Kuwait, que a trama começa a desenvolver contornos no mínimo estranhos.
Bennett Marco e Raymond Shaw, Denzel Washington e
Liev Schreiber, respectivamente, combateram juntos nessa guerra. Contudo, uma emboscada condiciona o desempenho dos americanos e faz de Shaw o herói que salva todo o pelotão, valendo-lhe uma medalha de honra.
Anos mais tarde, o herói de guerra envolve-se na política e, muito influenciado pela mãe, papel interpretado por Meryl Streep, candidata-se à vice- presidência dos Estados Unidos.
Marco passou a sua vida, desde o fim da guerra, a fazer discursos enaltecendo a coragem demonstrada por Shaw no campo de batalha. Contudo, o aparecimento de um antigo soldado, traumatizado de guerra, faz Marco pensar na hipótese de haver factos mal contados aquando da emboscada no Kuwait. É a partir daí que ele descobre que todos os membros do seu pelotão foram alvo de uma lavagem ao cérebro, cujo principal objectivo era colocar Shaw no poder, fazendo dele uma marioneta nas mãos dos mais interessados.
“O Candidato da Verdade” é um filme com um argumento rebuscado que demonstra, até certo ponto, aquilo que se pode fazer para atingir os objectivos de uma elite de poderosos. É um thriller que conta com opiniões muito divergentes acerca do argumento, mas que é consensual do ponto de vista do desempenho dos principais actores.

sexta-feira, novembro 12, 2004

Era uma vez a animação portuguesa

A primeira longa-metragem de animação portuguesa está a ganhar os primeiros contornos no Cineclube de Avanca, uma vila nos arredores de Aveiro.
É uma produção adaptada da peça infantil João Mata Sete, do brasileiro Silvino Fernandes, e conta a história de um rapaz, João Sete Sete, que habita numa aldeia onde tudo é proibido e cujo rei ambiciona edificar uma grande torre, colocando em risco uma floresta vizinha.
A ideia para este projecto é antiga, tem cerca de dez anos, mas só recentemente, com o apoio do Instituto do Cinema, Audiovisual e Multimédia (ICAM), é que foram reunidas todas as condições para produzir João Sete Sete.
António Costa Valente, director do Cineclube, que todos os anos organiza Encontros Internacionais de Cinema, Televisão, Vídeo e Multimédia, é um dos realizadores desta fita. Contudo, este projecto é partilhado por mais 14 pessoas, que há muito que gostariam de experimentar este formato de animação.
Por enquanto, só resta aguardar pela sua estreia, prevista para Maio do próximo ano.

terça-feira, novembro 09, 2004

II edição do festival BragaCine


A Videoteca Municipal de Braga acolhe, no mês de Novembro, a segunda edição de um evento ideal para os amantes da Sétima Arte



Irá decorrer em Braga, entre 26 e 30 de Novembro, a segunda edição do BragaCine, uma mostra de cinema que se dedica essencialmente ao cinema independente. Embora com um orçamento incomparavelmente menor que o de muitos outros eventos do género, este festival de cinema contará com um respeitável leque de convidados. Nomes como o de Morgan Spurlock, autor do polémico documentário “Super Size Me”, ou John Rhys Davies, o “anão” da triologia ''Lord of The Rings”, marcarão presença na capital do Minho.
Para além destes, estarão ainda presentes no certame os realizadores Fernando Trueba (“Belle Époque”), Julian Richards (''The Last Horror Movie'') e Andrew Parkinson (“Dead Creatures”). Durante os cinco dias do festival, os visitantes terão a possibilidade de (re)ver alguns filmes entre os quais “Lost in Translation” de Sofia Coppola, “Cidade de Deus” de Fernando Meireles, ou “Comandante” de Oliver Stone. A exibição de alguns clássicos, como “Citizen Kane” de Orson Welles e “Morte a Venezia” de Luchino Visconti, contribuirão para enriquecer o cartaz. As curtas-metragens (algumas das quais em estreia nacional) serão uma das grandes apostas da organização, bem como os ciclos temáticos dedicados às filmografias de Manoel de Oliveira e Clint Eastwood. Como complemento a este evento, irá decorrer simultaneamente uma feira de literatura ligada à Sétima Arte e outra dedicada ao DVD. Desta forma, os cidadãos bracarenses poderão usufruir de uma série de eventos culturais, algo que não é muito vulgar na cidade dos Arcebispos.

segunda-feira, novembro 08, 2004

Realizador holandês Theo van Gogh foi assassinado

O cineasta holandês, Theo van Gogh, foi assassinado, na passada terça feira (02/11/2004), em Amesterdão. O controverso realizador morreu esfaqueado e vítima de vários tiros, diante de um escritório do governo holandês.
No âmbito do inquérito deste homicídio, a polícia prendeu, 24 horas depois, oito suspeitos de origem norte-africana, suspeitos da prática de actividades terroristas. O presumível assassino, dado a conhecer pela imprensa como Mohammed B, mantinha contacto com estas pessoas e operava junto de um grupo de radicais islâmicos. Van Gogh era autor de trabalhos bastante polémicos, nomeadamente, a sua última curta-metragem sobre o Islamismo.
Theo van Gogh, de 47 anos, realizou uma vintena de filmes, escreveu três livros e era colaborador de jornais e revistas. O cronista era convidado regularmente a dar as suas opiniões, sempre polémicas, em programas de televisão.
O realizador tinha acabado a rodagem o filme 0605, sobre o assassinato do líder populista holandês, Pim Fortuyn, poucos dias antes de ir a eleições.
Na sequência das suas críticas ao tratamento feito às mulheres na sociedade muçulmana, o cineasta realizou Submission, ainda este ano. Depois deste filme ter vindo a público, Van Gogh, terá recebido ameaças de morte, obrigando-o a andar com protecção policial, que ele tentava sempre despistar.
As autoridades holandesas provavelmente irão investigar se este filme terá alguma relação com a morte do realizador.

"Submission"

Submission é uma curta-metragem de dez minutos onde está bem patente a violência praticada contra as mulheres muçulmanas. O argumento é de Ayaan Hirsi Ali, uma parlamentar liberal holandesa de origem somali, que renunciou ao islamismo, a sua religião de nascimento. Desde Agosto, quando o filme foi emitido na Holanda, que Ayaan vive acompanhada por um segurança, porque também foi ameaçada de morte.
Este filme denuncia os abusos que as mulheres muçulmanas sofrem diariamente. Incesto, casamentos forçados, suicídios de jovens imigrantes islâmicas, violações e a constante submissão das mulheres em relação aos homens são alguns dos actos violentos que aparecem retratados no filme.
Uma das razões que contribuiu para aumentar a controvérsia desta curta-metragem foi o facto de aparecerem versos do Al-Corão, escritos nos corpos das mulheres. Esses versos afirmavam que um homem pode utilizar a sua mulher quando, onde e como quiser, se isso for uma ordem de Deus.

Parlamento holandês vai debater o homicídio

A morte de Theo van Gogh despoletou um grande debate nos países baixos. No parlamento, alguns dirigentes políticos vão questionar o Governo, amanhã, dia em que Van Gogh será cremado, acerca da segurança no país. Vai ser discutida também a questão dos serviços de informação. Estes, segundo Jozias van Aartesn, dirigente dos liberais (VVD), não estiveram suficientemente atentos, pois deixaram que o autor do crime vivesse calmamente no seio da sociedade holandesa.
Confrontados com esta situação, muitos holandeses consideram que o fundamentalismo islâmico espalhou-se progressivamente no país, sem que o Governo desse por isso.

“Um filme de raiva e de ternura”

Estreou no grande ecrã, no passado dia 28 de Outubro, o filme “A Terra da Abundância”. Do relacionamento antigo, de Wim Wenders e os Estados Unidos surge, agora, o retrato da sociedade americana, na mais perfeita harmonia actual.

Depois de grandes sucessos cinematográficos, como Paris Texas (1984) ou The Million Dollar Hotel (2000), Wim Wenders apresenta-nos, desta vez, uma Terra da Abundância (The Land of Plenty- o seu título original), em que vemos a face de uma América marcada pela pobreza, angústia e pelo horror delirante.
A história é conturbadamente simples. Lana (Michelle Williams), uma jovem cristã de 20 anos, depois de anos em África e no Médio Oriente, regressa aos E.U.A. Decide conhecer melhor o seu país de origem e participar numa missão católica, que no seio de Los Angeles, presta auxílio aos sem-abrigo. Contudo, ela tem outro objectivo mais importante, reencontrar o seu único familiar próximo, um tio.
Paul (John Diehl) é esse tio. Um veterano do Vietname, alucinado com o seu desígnio de salvar a América dos terroristas, que vive numa carrinha munida de câmaras e microfones, patrulhando as ruas da cidade dos anjos. Desde o 11 de Setembro de 2001, Paul sente-se um guardião, que tem por missão velar pelo povo da América, e qualquer árabe que aviste, através da sua viatura estratégica, é suspeito.

Estilo próprio
Através das duas personagens, Wenders retrata a América dividida do pós 11 de Setembro. Por isso, inventou um tio e uma sobrinha, que apesar de não se conhecerem e estarem em lados opostos de uma “guerra psicológica”, conseguem comunicar, num país onde existe um grave problema de comunicação, como o próprio afirma. As reflexões sobre a realidade americana têm sido constantes na carreira do realizador alemão, que considera a Terra da Abundância, não um filme “raivoso”, mas o resultado de frustrações e raivas relativamente ao mundo político contemporâneo.
Longe do modelo documental de Michael Moore, Wenders filma a realidade da “terra sinistra, escura, paranóica e cheia de mentiras e cinismo” que é a de Bush. E, ao seu próprio estilo, mostra o ”american way of life”.